sábado, 12 de janeiro de 2013

RELEMBRE O CASO - O Lobo bom


Existe uma lenda que diz que no Dia de Finados o tempo fica nublado e chove.
Talvez seja a forma de a natureza expressar o seu sentimento de tristeza e derramar “lágrimas” saudosas por aqueles que já partiram.

Por ironia do destino, hoje é também o dia de lembrarmos o sofrimento de um cão que fez com que muitos refletissem sobre como os animais são tratados no Brasil.

Dia 2 de novembro, o caso Lobo, o cachorro da raça rottweiler que foi arrastado em Piracicaba pelo próprio dono e morreu, completou um ano.




Imagem do Lobo, que se recuperava depois de ter sido arrastado - Crédito: Divulgação

QUER SEGUIR O BLOG NO TWITTER? CLIQUE AQUI!
http://twitter.com/ConversadeBicho


Na oficina onde o cão vivia, uma Bíblia sobre a mesa de trabalho e as imagens de vários santos na parede levam a crer que ali há uma demonstração de fé e a pregação de valores como o amor à vida, bondade e esperança.

O que contradiz com a atitude do homem acusado de arrastar o seu animal e condená-lo à morte, ao deixá-lo ferido à mercê da sorte.
Um cachorro de oito anos, manso e tranquilo, como o próprio dono afirmou à reportagem.



Oficina de Claudio Cesar Messias - Crédito: Fábio Brito

Em conversa exclusiva com o blog Conversa de Bicho, Claudio Cesar Messias, proprietário do animal, disse que “tinha o hábito de passear” com o cachorro.
Ele o amarrava dentro da picape e saía pelas ruas da cidade.

Messias afirmou que não viu que o cão havia caído da caçamba, que a sua atitude não teria sido intencional e que sempre gostou de animais.

Ele fez questão de mostrar a gaiola de um dos pássaros que tem na oficina, um canário – que cantava sem parar –, limpa e com alimento.
“Dá uma olhada.
Veja como está bem cuidada.”

Para o dono, o que teria motivado ele ter saído do local sem prestar socorro ao animal foi a ameaça de linchamento.
“Uma das testemunhas disse que pegou um pedaço de caibro e pedra para me atacar, por isso que evadir do local (sic.).
Como vou ficar lá?
Eu não vi esse cachorro.

Um motoqueiro bateu no vidro e disse que eu estava arrastando um cachorro, mas eu disse que tinha um cachorro deitado na caçamba.
Como começaram a me ameaçar, deixei ele na calçada (sic.).”


Cão Lobo após procedimento cirúrgico para a  retirada do membro - Crédito: Divulgação


Para Messias, a vida depois da morte do cão Lobo mudou.
“Sofri muitas ameaças.
Meus filhos também.
Se eu quisesse matar o cachorro não iria fazer isso arrastando.
Eu não mato uma barata.
Tenho 50 anos e nunca entrei numa delegacia.
Nunca usei droga ou fumei na minha vida.
Depois que aconteceu isso, eu sou tudo.
Chegaram a dizer que eu estava até bêbado.
As pessoas julgam você sem te conhecer.
No dia do acidente, ninguém para: ‘oh, o que aconteceu?’
Já vão querendo linchar.”

A afirmação de ameaça e de desconhecer que estava arrastando o rottweiler, no entanto, contradiz o testemunho de pessoas que passavam pelo local.

Disseram que o cão estava sendo puxado por fora da carroceria da camionete e que o motorista fora avisado sobre o que estava acontecendo.

Segundo relatos, o dono não teria dado atenção e continuou a puxá-lo por mais alguns metros.

Depois parou, desamarrou-o e ameaçou matá-lo.

Felizmente, foi impedido pelas pessoas que estavam ali, mas deixou o animal na rua, num estado crítico.

O cão teria conseguido ajuda, mas, mesmo lutando bravamente pela sobrevivência, perdera uma pata e, dias depois, a vida.

Cláudio Messias é acusado de maus-tratos e responde a uma ação penal em Piracicaba que já dura um ano.

Apesar de o caso ainda não ter sido concluído no tribunal, o Ministério Público (MP), por meio do promotor Fábio Salem Carvalho, pede a condenação do acusado com uma pena de sete meses de reclusão e o pagamento de 10 salários mínimos.

Em suas considerações finais apontou que, apesar de Claudio não ter atirado o animal de forma intencional para fora do veículo, ele viu que o cão estava sendo arrastado e continuou, conscientemente, a puxá-lo com sua camionete pela rua.

Complementa, ainda, dizendo que o réu “demonstrou, por meio do desvio de sua conduta, possuir péssimos valores morais e personalidade voltada para a prática de ilícitos”.


Parte do processo contra Claudio Messias

Na última audiência sobre o caso Lobo, o réu Claudio Cesar Messias preferiu não se manifestar, alegando estar sem o seu advogado.


O juiz titular do Juizado Especial Criminal (Jecrim) de Piracicaba, Ettore Geraldo Avolio, intimou o dono a apresentar as alegações finais sobre o caso, para então proceder com o julgamento.

Caso não sejam feitas em cinco dias após o recebimento da intimação, um advogado poderá ser designado para fazê-las.
No entanto, ainda há um recurso interposto no Colégio Recursal de Piracicaba, pedindo a suspensão do processo.

Caso seja atendido, o juiz tem de esperar até a decisão final do Colégio Recursal para concluir se irá condená-lo ou não.

Os representantes da ONG Vira-lata Vira Vida, que acompanharam Lobo na batalha pela sobrevivência desde o início, acreditam na condenação do acusado.

Segundo Miriam Miranda, presidente da ONG, isso seria fundamental para que houvesse uma mudança de paradigma.
“Poderia ser a grande transformação nessa discussão pela lei de maus-tratos e para conseguirmos alterações no Código Penal.

Acredito que está focado no caso Lobo o futuro dos casos de maus-tratos do Brasil inteiro”, explica.

Para Miriam, a ação está sendo sofrida e longa, mas como está prosseguindo de maneira séria e com relevância pelo MP, deve servir de exemplo para que outros protetores não desistam.

“A demora não ocorre apenas em casos de processos contra animais, a lentidão é algo comum na Justiça como um todo.

Por isso as pessoas tendem a acreditar na impunidade, mas aprendemos com tudo isso que é preciso ter paciência e que a única forma de mudar as coisas é acreditar na justiça e fazer parte dela.”

A condenação pelo juiz do Jecrim também é encarada como uma realidade pelo próprio acusado.

Claudio Cesar Messias, que se diz vítima da imprensa e do prejulgamento, afirma que vai recorrer.

“Esta sentença está pronta.
Por aqui eu já fui condenado.”

Depois do caso Lobo, algumas mudanças significativas aconteceram.

A conscientização da população sobre problemas ambientais e crimes contra animais tem mudado.

Além de ter aumentado o número de denúncias, foi criado, na Delegacia de Investigações Gerais (DIG), em Piracicaba, um setor especialmente para atuar em casos de maus-tratos contra bichos da cidade.

Estuda-se, ainda, a possibilidade de fazer Boletim de Ocorrência pela internet, o que aumentaria ainda mais o número de denúncias.

O sofrimento desse cão virou símbolo da batalha contra os maus-tratos.

Agora cabe à Justiça definir o desfecho do caso e a nós, cobrá-la.
“A luta do Lobo pela sobrevivência é a mesma que nós temos pela justiça, para que mais animais não passem pelo que ele passou”, completa Miriam Miranda.


http://blogs.estadao.com.br/conversa-de-bicho?s=CASO+LOBO

Nenhum comentário: