segunda-feira, 26 de julho de 2010

Saúde dos Animais

GERIATRIA VETERINÁRIA : o que se deve considerar...
A VELHICE DE CÃES E GATOS


Quando o organismo reduz progressivamente suas habilidades, afetando gradativamente diversos órgãos e sistemas orgânicos, é sinal de que os nossos amigos estão envelhecendo.
E quando isso acontece?
Existem diferenças individuais, familiares e raciais no processo de envelhecimento, mas geralmente podemos considerá-los pacientes geriátricos quando:
1- raças pequenas, com menos de 10 kg, atingem de 9 a 13 anos de idade
2- raças médias, que apresentam de 10 a 15 kg, atingem de 9 a 11 anos de idade
3- raças grandes, que apresentam de 25 a 45 kg, atingem de 7,5 a 10,5 anos de idade
4- raças gigantes, que apresentam mais de 45 kg, atingem de 8 a 10 anos de idade
Gatos vivem em média 12 anos e podemos considerá-los idosos à partir de 7-8 anos de idade.

No geral, além do pequeno porte, os mascotes que não saem a rua, que são castrados e de raças mestiças, têm maior longevidade ( vivem mais tempo).
Apenas 13% dos cães de raças grandes atingem 10 anos de idade, ao passo que 37% dos de raças pequenas chegam a esta idade.
Já os animais de raças gigantes, tem uma expectativa de vida de apenas 6,5 anos em média.

E como se dá o processo de envelhecimento?
De forma gradativa e silenciosa.
As alterações atingem vários sistemas ao mesmo tempo: o sistema imunológico vai ficando confuso e ineficiente, o metabolismo já não é mais o mesmo, o sistema músculo esquelético vai se modificando (como nos humanos há diminuição da massa e força muscular e aumento do depósito de gorduras), há um desgaste articular importante (mais evidente e comum em animais obesos e sedentários), os ossos estão mais frágeis, os dentes já sofreram desgastes e houve perdas importantes de dentes, as secreções de enzimas, hormônios e outras substâncias importantes para o bom funcionamento orgânico já não são tão eficazes como antes e assim há alterações em vários sistemas orgânicos.

Com o avanço dos anos tanto os rins quanto o coração e os pulmões diminuem sua eficiência natural e alguns sinais sutis como aumento ou diminuição na ingestão de água e da quantidade e freqüência urinária, cansaço e tosse após exercícios podem sinalizar alterações nesses sistemas.
Com relação a atividade e interesse, a maior parte do tempo que antes era utilizado para brincar e explorar o ambiente, agora é preenchido com o sono ou dormitação.
A diminuição da acuidade visual, da audição e do interesse no ambiente, também vai acontecendo gradativamente.

O que vem a ser Disfunção Cognitiva (DC)?
Quando o cão passa a ter dificuldades em reconhecer pessoas , lugares e objetos, apresenta diminuição da memória e capacidade de atenção, regressão no aprendizado adquirido (como defecar e urinar em locais impróprios), problemas de orientação espacial (tem sede e não encontra o local do seu bebedouro, p.ex.), alterações no ciclo de sono e vigília (dorme muito durante o dia e acorda muito ou fica agitado a noite, p.ex.), ele pode estar apresentando uma Disfunção Cognitiva, muito semelhante a Doença de Alzheimer dos humanos.

As lesões pós mortem, tanto em animais quanto em humanos, são muito semelhantes e as pesquisas apontam como causas prováveis, a deposição de uma proteína beta-amilóide no córtex cérebral e no hipocampo, inibindo a transmissão de sinais cognitivos entre os neurônios.
Também existem evidências de um aumento na atividade da enzima MAO, responsável pela degradação da dopamina, favorecendo o acúmulo de radicais livres e desta forma interferindo na transmissão do impulso nervoso e facilitando a formação das tais placas amilóides.
O aumento funcional do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal também vem sendo potencialmente responsabilizado pelo quadro.
As alterações comportamentais, neste caso, não estão associadas a doenças propriamente ditas, e sim a cognição (memória, aprendizado, percepção e entendimento).
Agressividade, comportamentos compulsivos( como andar em círculos, uivar ou chorar ou gemer em excesso) e diminuição na interação com a família, são achados comuns nos portadores desta disfunção.


Alguns sinais referentes ao DC:
1- O animal idoso apresenta uma desorientação espacial, com dificuldade em transpor obstáculos que antes fazia com desenvoltura, como por exemplo passar entre o sofá e a mesinha ou encontrar a saída para a rua.
Também podem manifestar que algo anda errado quando simplesmente apóiam a cabeça contra uma parede ou ficam olhando fixamente para o nada.

2- Podem esquecer que comeram e querem comer de novo e de novo....

3- Apresentam agitações noturnas, acordando seus donos para comer, passear ou mesmo somente para ter atenção, no meio da noite.
Também há animais que passam a chorar, gemer ou uivar mais durante a noite.

4- Passam a não cumprimentar ou mesmo não reconhecer seus velhos companheiros humanos ou não, e mesmo demonstrar agressividade onde antes eram só demonstrações de amor e admiração.

5- Dormem por muito mais tempo, não têm interesse em brincadeiras ou passeios que antes os encantavam.

6- Retrocessos no processo de aprendizagem, com deposições inadequadas (fezes e urina em locais inapropriados) e alterações no padrão de higiene (gatos que não se lambem mais, cães que se deitam em locais sujos).


Estes sinais podem ser confundidos, pelo cuidador, com o processo de envelhecimento normal, e desta forma ser considerado como inevitável, mas no caso do DC, após o surgimento dos primeiros sintomas, há uma perda progressiva de todas as funções orgânicas com uma sobrevida de 18 a 24 meses, sendo um motivo comum da escolha da eutanásia.

É importante ressaltar que a DC é considerada uma doença específica e já existem mecanismos terapêuticos estabelecidos para retardar e controlar a evolução do processo degenerativo causado pela doença e desta forma melhorar a qualidade de vida do animal afetado.
Cerca de 60% dos animais com mais de 11 anos de idade e 86% dos cães com 15-16 anos apresentam sinais de DC. Fêmeas parecem ser mais afetadas que os machos.

TRATAMENTOS DISPONÍVEIS
O Ldeprenil é o medicamento mais utilizado na medicina convencional.
Sua atuação se dá bloqueando a MAO (monoamino-oxidase) cuja função é degradar a dopamina (neurotransmissor) e desta forma aumentando a concentração de dopamina e diminuindo a produção de radicais livres.
Esta medicação não deve ser utilizada junto com antidepressivos ou com amitrazinas.
Há estudos que avaliam a melhora dos cães em 75%nos parâmetros avaliados.
A taxa de efeitos colaterais (diarréia, vômito e desorientação) fica entre 20-25%.
A droga deve ser utilizada por toda a vida do animal e o seu custo fica em torno de US$150 dólares mensais.

Já uma abordagem mais integralista, requer a utilização de substâncias anti-oxidantes naturais (ômega 3,vitamina E, poliferóis e selênio dentre outros), suplementação com colina (na prevenção e tratamento do distúrbio) e alimentação caseira balanceada, conforme os requerimentos da doença.

Os antioxidantes estão disponíveis em vários alimentos que podem ser oferecidos no dia a dia, como aveia, tomates cozidos, azeite de oliva, óleo de peixe, óleo de borragem, castanha do pará, chá verde em cápsulas, linhaça, girassol, repolho roxo, uva escura, morango, maçã, brócolis, espinafre, alecrim, orégano, açaí, abóbora, etc.

A utilização de um complexo vitamínico composto por colina, fosfatidilcolina, metionina e inositol associados a outras vitaminas do complexo B é defendida pelo Dr.Shawn Messonier, veterinário americano que avaliou os resultados desta terapêutica em 19 cães e 21 gatos com melhoria de sintomas em aproximadamente 75% dos animais avaliados.
Ele ainda relata que em sua experiência clínica, a utilização deste suplemento vitamínico além de reverter sinais e sintomas da doença já estabelecida, quando utilizado antes do aparecimento dos sinais clínicos da doença, demonstra segurança e efetividade significativas na prevenção da disfunção cognitiva.


Além da suplementação através de complexos vitamínicos contendo estes componentes, uma alimentação rica nestes é muito bem vinda.
São fontes de colina: gema de ovo, farinha de aveia, couve-flôr, couve, repolho fígado e lecitina de soja.
A fosfatidilcolina, também conhecida como lecitina, apresenta como principais fontes o fígado, gema de ovo, soja, amendoim, espinafre e trigo.
Já a metionina pode ser encontrada na quinoa, lecitina de soja, trigo integral, semente de girasol, ovos e carne suína.
O inositol também é encontrado na lecitina de soja, em nozes, alfafa germinada,leguminosas em geral, gérmen de trigo, fígado, coração e frutas como o melão.
Portanto, LECITINA DE SOJA neles.

A Dra. Gloria Dood, médica veterinária holística, relata a associação do acúmulo de placas amilóides com a intoxicação crônica por alumínio.
Ela baseia esta afirmação em trabalho desenvolvido por uma psiquiatra americana, Elizabeth Reese que afirma ter encontrado altos teores de alumínio em cabelos e saliva de pacientes humanos com Doença de Alzheimer e que após o tratamento de desintoxicação pela utilização de quelantes (pequenas moléculas que se ligam a substância tóxica para seqüestrá-la e eliminá-la), observou concomitantemente a queda dos níveis de alumínio, o desaparecimento de sintomas como perda de memória e confusão.
Dra. Glória Dood utiliza tratamentos alternativos para DC, dentre eles a desintoxicação do organismo do paciente com quelantes de alumínio e proíbe categoricamente a utilização de bebedouros e comedouros de alumínio, assim como utilização de panelas de alumínio para a confecção de comida caseira para os pets.
Pesquisei sobre quelantes naturais na forma de alimentos e encontrei alguns elementos importantes que agem sobre o alumínio: maçã e vinagre.


Além das terapêuticas medicamentosas, é importante orientar o proprietário quanto a reeducação do paciente geriátrico e medidas que facilitem o seu bem estar dentro de suas novas limitações melhorando desta forma a interação animal-cuidador-meio ambiente:

- Previna o stress ambiental mantendo a rotina do animal e evitando mudanças no ambiente para que ele possa se localizar no espaço sem obstáculos e mudanças que possam provocar acidentes ou desconfortos (mudança na localização dos móveis, da caminha dele, do bebedouro e comedouro,etc.).
Você também pode facilitar a vida dele utilizando rampas de acesso no lugar de escadas, rampas para sofás ou camas ou ao contrário, a diminuição da altura dos móveis que ele utiliza para deitar desta forma mantendo a autonomia do animal e diminuindo os riscos de acidentes.

- Ajude-o com os cuidados de higiene, escovando-o com escova macia, banhando-o quando necessário. Tosas higiênicas são indicadas para facilitar o trato e os cuidados com idoso.
Ele deve sentir-se mais confortável.

-Não utilize produtos com odores fortes nem nele, nem no ambiente para não desorientá-lo ainda mais e evite enviá-lo ao banho e tosa que é um ambiente mais estressante por natureza.

- Incentive-o a comer e beber regularmente, com horários pré-estabelecidos.
Pode ser necessário lembrá-los de executar estas tarefas tão comuns e esperadas em outros tempos.
Não exagere, pois eles podem pedir comida mais vezes simplesmente pelo fato de não lembrarem que já comeram.
A obesidade é sempre prejudicial, principalmente no indivíduo senil.

- O estímulo aos exercícios moderados como caminhadas e jogos também fazem parte do tratamento. Renovar os laços já existentes e muitas vezes adormecidos é importante.
Incentive-o, elogie-o, premiações motivacionais são importantes para reacender as relações e manter o cérebro ativo.

-Cuide para que ele não saia sozinho, mesmo que tenha feito isto por toda a sua vida.
As circunstâncias novas podem levá-lo a vaguear sem rumo e não encontrar o caminho de volta.

- Se ele vive mais tempo dentro de casa, não esqueça de chamá-lo regularmente para as necessidades no local adequado.
Os gatos devem ter mais bandejas de areia a disposição, em locais estratégicos da casa.

- Por último, não esqueça que esse é o momento de você retribuir todos os momentos de atenção, carinho, companhia e adoração que ele compartilhou com você.
Esses amigos incondicionais, agora necessitam da sua colaboração, paciência e um pouco mais de atenção e cuidados.

Revisão bibliográfica:
http://veterinario.com.pt/artigos/200903_alzeihmerCanino.pdf
http://www.petcarenaturally.com/articles/alzheimers-in-dogs-and-cats.php

http://www.ivis.org/proceedings/lavc/lavc2006/helio3.pdf

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