quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Seleção genética e propagação de problemas físicos

 

 
Revista Cães & Cia, n. 301, junho de 2004
 
O comportamentalista Alexandre Rossi comenta os “efeitos colaterais” causados às raças caninas pela seleção genética e propõe que se trabalhe para não propagá-los


Nenhuma espécie animal tem tantas formas, tamanhos e comportamentos como os cães.
Seus portes variam desde os minúsculos Chihuahua, Pinscher, Poodle Toy e Yorkshire até os enormes Dogue Alemão, São Bernardo e Terra Nova.
O temperamento pode ir do muito dócil ao bastante agressivo.
Uns adoram nadar, outros preferem não se molhar.
E assim por diante.
Tanta diferença resulta em grande parte dos acasalamentos selecionados – aqueles feitos a partir de critérios humanos, bem diferentes dos que acontecem na Natureza.

Por esse motivo, a seleção usada para fazê-los é considerada artificial.

 
Seleção natural x artificial

Na natureza, comente os mais aptos se reproduzem e se multiplicam, sobrepujando, assim, os indivíduos que nascem com problemas.
Por esse motivo, a maioria dos animais selvagens são bastante saudáveis fisicamente e psicologicamente.
Já na seleção artificial, o critério é acasalar cães a partir de suas características morfológicas (das formas físicas), fisiológicas (das funções orgânicas) e/ou psíquicas (da atividade mental, inclusive das aptidões para aprender comportamentos e tarefas).
É o que aconteceu, por exemplo, na formação das raças pequenas.
A preferência foi por acasalar os cães de menor porte, independentemente da capacidade para sobreviver por conta própria, em ambiente competitivo.

Existem raças caninas criadas em laboratório?

Por causa da variedade de formas físicas e de comportamentos, houve o boato da existência de raças caninas criadas em laboratório.
Nenhum cão conhecido foi desenvolvido em tubo de ensaio.
Mas não é impossível que, com o avanço da engenharia genética, isso venha a ocorrer.

Formas físicas diferentes e sofrimento animal

Ao tomar para si a seleção de cruzamentos, o ser humano se torna responsável pelo vem-estar dos animais da sua criação.
No anseio de produzir cães diferentes, foram desenvolvidas características extremadas, que chegam a atrapalhar os cães.
Buldogues têm focinho tão achatado que ficam com a função respiratória comprometida.
Shar Peis, com tanta pele “sobrando”, desenvolvem micoses e infecções nas dobras.
Basset Hounds podem tropeçar em suas próprias orelhas.
Com coluna alongada, os Teckels freqüentemente desenvolvem males ósseos.
A hiperatividade do Border Collie o deixa compulsivo demais, entre outros exemplos.

Seleção artificial e doenças herdadas

Juntamente com os genes das características visíveis, são repassados genes “invisíveis” – aqueles que, apesar de presentes, não se manifestaram no indivíduo, mas que, provavelmente, afetarão descendentes.
Alguns acarretam propensão para males como displasia coxofemoral, surdez, miopia, diversas doenças de pele e problemas psicológicos.

Cães hiperativos, medrosos e compulsivos

A seleção de comportamentos visando a aptidão para determinadas tarefas que alguns cães já nasçam com predisposição para ser guardada, outros para pastorear ou caçar, etc.
O problema é que a maioria dessas raças é usada, hoje em dia, para companhia.
Assim, um cão com muita energia, necessária para longas jornadas de trabalho nos campos, ficará hiperativo e compulsivo se levar vida sedentária, e estará sujeito a problemas de comportamento.

Pensar no bem-estar

Precisamos evitar a seleção proposital de características que prejudiquem os cães.
Devemos, por exemplo, preferir a seleção de Buldogues que não tenham focinho tão achatado ou que não desenvolvam problemas respiratórios.
Convém optar por Shar Peis não tão enrugados ou que sejam mais resistentes a problemas de pele.
É recomendável preferir os Border Collies menos compulsivos e menos hiperativos.
Também não devemos reproduzir cães com problemas psicológicos ou que partem genes de doenças, mesmo que sejam campeões de beleza.



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