quinta-feira, 28 de junho de 2012

A indústria de filhotes e seu impacto no abandono e no sofrimento dos animais


Telefone, Internet ou porta-malas de um carro.
Seja qual for o meio, é certo que todos os dias centenas de vidas serão vendidas em uma cidade como São Paulo, num exemplo do que acontece com o resto do país.
Com cinqüenta reais é possível comprar um cão ou gato em pet shops ou feirinha de rua.
É uma verdadeira indústria que despeja filhotes no mercado, sem garantia de saúde, na maioria das vezes portando alguma doença infecto-contagiosa.
O destino desses animais?
Incerto, mas pode-se dizer que são sérios candidatos a uma vida de privações ou ao abandono.

Enquanto algumas pessoas usufruem do lucro fácill e sem escrúpulos, cresce nas cidades o número de animais em situação de abandono, com ou sem raça definida.
Por impulso ou falta de informação, muita gente compra um filhote, apenas porque viu uma carinha fofa na vitrine.
Alguns sequer têm tempo para dedicar ao animal, outros simplesmente não estão preparados para os gastos ao cuidar dele.
Mas aí a coisa já está feita, e a solução é “dar para alguém”, ou pior, o abandono.
Em São Paulo são cerca de 20 mil cães e gatos recolhidos anualmente pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), dos quais poucomais de 1.000 conseguem um novo lar.

Em épocas como a do Natal, muita gente pensa em presentear com um bichinho de estimação.
Foi o caso de André Della Serra, que decidiu dar um poodle-toy para sua mãe este ano, depois de tanto sofrimento com a morte de Snow, com quem a família conviveu por 17 anos.
“Minha mãe ficou muito triste com a falta dele, resolvi presenteá-la com essa cadelinha e aí... começou meu pesadelo”.
Dos mambembes aos grandes pet shops: há perigo em todo lugar

André foi mais uma vítima de comerciantes que vendem animais apenas visando o lucro.
Ele descobriu o canil por meio de um anúncio na internet, ligou e conversou com o dono, que passou a ficha do filhote por e-mail: teria 55 dias de vida, já se alimentava de ração seca, estaria vacinado e vermifugado.
Segundo o comerciante, visitas semanais de um médico veterinário responsável era mais uma garantia de saúde dos animais.
Não foi o que os laudos médicos constataram.

Depois de pagar os 400 reais em dois cheques, André foi buscar Julie, que veio acompanhada de uma carteira de vacinação (sem a assinatura de um veterinário responsável), com recomendações sobre alimentação e cuidados básicos “escritas em uma folha de caderno”.
Depois de quatro dias, Julie apresentou vômitos e diarréia e foi levada a uma veterinária, que constatou que o animal tinha pouco mais de 1 mês, necrose no rabo (uma das vértebras se soltou na mão da profissional) e poderia nem ter sido vacinada.
           
A suspeita era de virose, mas a cachorrinha foi levada para outra veterinária que sugeriu a internação em UTI, onde realizou vários exames.
Julie morreu em 17 de dezembro, 9 dias depois da compra, devido a parvovirose e cinomose.
O laudo final da necropsia apontou que a cadelinha morreu por maus tratos e negligência do canil, por ter sido desmamada antes do tempo prescrito.
Além disso, não tinha a idade alegada pelo comerciante, não foi vacinada e teve seu rabo cortado de maneira absolutamente errada.

André, que gastou 1500 reais para tentar salvar Julie, nomeou advogado para cuidar do caso e pretende processar o dono do canil onde comprou a cachorra.
“Sem nenhuma responsabilidade, as empresas que se intitulam ‘canis’ fazem barbaridades com os animais só pelo dinheiro”, afirma.
“Espero que esse processo sirva de alerta para que as pessoas sejam mais criteriosas na escolha de seus animais de estimação”.

No caso de grandes lojas, que vendem animais com a documentação em ordem, carteira de saúde assinada por médico veterinário e garantias que os filhotes estão em perfeitas condições, a decepção é ainda maior, já que tudo parece funcionar bem.
Alessandra Schmitt, gerente de marketing, comprou seu filhote da raça maltês em novembro deste ano num pet shop localizado dentro de um shopping center.
“Os donos me pareceram idôneos, não imaginei que pudessem ser meros vendedores preocupados unicamente com o dinheiro”, afirma. Luke morreu em pouco mais de uma semana, devido a “tosse dos canis”, doença que ataca o aparelho respiratório.
“Pelo estágio em que estava, o veterinário que cuidou do Luke garantiu que ele já veio do canil com a doença”, observa Alessandra.

Alessandra, que no ato da compra não se preocupou em conhecer os pais da ninhada e fez apenas uma tentativa para saber a procedência dos animais, insistiu em comprar o filhote assim mesmo.
Os proprietários não a deixaram visitar as instalações do canil.
“Eles diziam que os sapatos e a roupa do corpo dos visitantes poderiam levar doenças para os filhotes das mais diversas raças”, afirma.
“Na hora isso não fez diferença, não sabia dos riscos, mas hoje me arrependo”.
Quando ouvir uma resposta desse tipo, a primeira coisa que o futuro comprador deve fazer é desconfiar.
A vista grossa da Prefeitura
Quem costuma andar pelas imediações do Ibirapuera já deve ter visto um ônibus que faz exatamente aquilo que a prefeitura e as Ongs de proteção animal lutam para erradicar.
Trata-se de um veículo adaptado, que fica estacionado nos fins de semana em frente ao portão 7, na Av. República do Líbano, das 9h às 18 horas.
           
Na lateral, a inscrição: “Exposição e venda de filhotes com pedigree internacional”.
As fotos e as cores são chamativas, a promessa do pedigree ilude, e decerto atraem crianças e adultos deslumbrados com a idéia de adquirir um cãozinho.

No interior do ônibus, filhotes de diversas raças, em baias e canis improvisados, encantam as crianças como se fossem brinquedos de luxo.
O comerciante ambulante de filhotes sai da região de Cotia – a 33 km da capital paulista – para vender animais numa região com alta taxa de abandono de cães e gatos.
A sensação é de que as ongs de proteção animal tiram água de canequinha de uma canoa com muitos furos.

O caso ilustra uma realidade que acontece em cada canto do país. Meire ganha a vida vendendo cachorro e gato à beira de uma barulhenta avenida em Pirituba, bairro da zona oeste de São Paulo.
Os animais ficam “em exposição” durante todo o dia, de quinta a domingo, faça chuva ou faça sol, em gaiolas improvisadas embaixo de uma árvore e sem nenhuma cobertura.

O local é sujo, os filhotes de várias raças e aparência mal cuidada ficam misturados, grandes e pequenos, cães e gatos, cerca de 7 por gaiola.
“Filhotes com pedigree a preços acessíveis”, diz a placa escrita à mão.
Um filhote de pitbull é vendido a 50 reais.
“O pedigree a gente entrega por correio quando chegar”, diz a vendedora.
Quando perguntada sobre a procedência dos animais, é categórica:
“A gente tem um canil em casa, mas moramos longe daqui, não tem como visitar”.
E por que vem vender aqui?
“Porque aqui tem mais saída”, afirma.
Além disso, garante que os animais, aos 45 dias, já têm todas as vacinas e vermífugos, mas as carteirinhas de vacinação não trazem a assinatura do veterinário responsável.

Meire vende filhotes no local há 6 anos, sem licença, e nunca foi impedida pela prefeitura.
É difícil de acreditar que a prefeitura não tome atitude em relação ao comércio indiscriminado de animais em pet shops e ambulantes.
Anualmente, milhões de reais são investidos em mega-campanhas de vacinação nas ruas, resgate, abrigo, alimentação e até mesmo castração e doação de animais.

Todo esse esforço é inútil, quando se permite que “criadores” de fundo-de-quintal despejem animais sem critério, sem veterinários responsáveis, muitas vezes procriando pais e filhos com doenças genéticas e colocando em risco a saúde pública.
“É um absurdo a proteção animal gastar o que não tem para resgatar, tratar, castrar e encontrar um lar para um animal de rua, enquanto a criação e o comércio seguem impunes, sem fiscalização e com enorme sofrimento para os animais”, desabafa Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil.



- Filhotes S.A. 2.- Filhotes S.A. 3.

- Neste Natal, não compre. Adote Entre você também nessa campanha!
Coloque um botão para este artigo em seu site, é só copiar o código abaixo da imagem e colar em sua página:

Envie mensagem ao Secretário Municipal do Meio Ambiente de São Paulo e exija a fiscalização e o combate ao comércio indiscriminado de animais domésticos. (Se preferir utilize a carta padrão organizada pela ARCA Brasil)
Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho – Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo - eduardojorge@prefeitura.sp.gov.br
(Não esqueça de enviar cópia para comunicacao@arcabrasil.org.br)
Prezado Senhor,

Eu, ________________________________, estou indignado pela falta de fiscalização por parte da Prefeitura do Município de São Paulo, em relação às práticas ilegais de comércio de animais domésticos.
O ônibus “Filhote.com”, que vem de seu canil em Cotia para comercializar animais em pleno Parque do Ibirapuera, as feiras improvisadas na Av. dos Bandeirantes, no “Aquário” de Itaquera ou nas proximidades do Parque Villa Lobos são alguns dos muitos exemplos do que ocorre por todos os cantos da cidade de São Paulo.
Sem licença, comerciantes vendem animais amontoados em gaiolas, sem as mínimas condições de higiene, sem veterinários responsáveis e sem garantia de saúde – a maioria é vendida com menos de 60 dias, período recomendado para que o filhote seja encaminhado para um novo lar.

Essa prática, além de desrespeitar os direitos dos animais, estimula o abandono.
As entidades de proteção animal e a própria prefeitura investem recursos em campanhas de vacinação, castração, doação e conscientização, lutam para devolver um animal abandonado para a sociedade, enquanto a administração não fiscaliza a criação e o comércio, que segue impune e com enorme sofrimento para os animais.

Como cidadão brasileiro(a), exijo que haja fiscalização atue em todos os casos de comércio ilegal e imoral de animais domésticos na cidade de São Paulo.

Atenciosamente,





http://www.arcabrasil.org.br/noticias/061230_filhotes.htm

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