Rio de Janeiro
Um em cada dois brasileiros já teve contato com a toxoplasmose e apresenta sorologia positiva para a doença,
causada por um protozoário (Toxoplasma gondii) que se reproduz no sistema
digestivo dos felinos e que pode provocar cegueira, abortamentos e levar até a
morte.
A transmissão para os humanos se dá pela
ingestão de carnes mal passadas ou verduras e frutas mal lavadas, além do
contato com o protozoário.
O dado é da pesquisadora Maria Regina Reis
Amendoeira, chefe do Laboratório de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC).
Atualmente ela desenvolve uma pesquisa para
mapear a extensão da doença na região do Pantanal, onde é grande a presença de
felinos selvagens, que podem transmitir o protozoário ao grande rebanho bovino -
que ingere água e gramíneas contaminadas com os oocistos [um tipo de ovo
imaturo] da toxoplasmose - e posteriormente para o homem.
“Os felinos eliminam no ambiente o oocisto, que
vai para o tecido do boi e formar o cisto.
Aí aqueles carnívoros que vão se
alimentar desses animais, como o homem que faz um churrasco mal passado, pode se
infectar com essa carne”, explicou a pesquisadora.
Outra forma de propagação é por meio da
irrigação de hortaliças com água contaminada pelas fezes dos felinos com os
oocistos.
Não higienizadas para o consumo, as hortaliças acabam contaminando o
ser humano.
Além disso, a pesquisadora alerta que gatos domésticos não devem
dormir na cama com os donos e nem subir na mesa, pois podem trazer nas patas os
oocistos do protozoário.
Pesquisas indicam que 16% dos gatos domésticos
que têm donos, mas costumam passar um tempo fora da residência em contato com
outros felinos e eventualmente caçando outros animais, apresentam o protozoário
da toxoplasmose. Já os gatos que comem apenas ração e nunca saem de casa têm
chance quase zero de ter a doença.
“Não precisa se desfazer do gato.
Basta ter
cuidados.
Principalmente a mulher que nunca teve contato com a doença.
Porque se
ela se contaminar durante a gestação poderá passar para o bebê, levando ao
aborto ou deixando sequelas, como hidrocefalia e toxoplasmose ocular, que pode
causar cegueira”.
No Rio de Janeiro, o índice encontrado pelos
pesquisadores de exame positivo na população para a doença foi 56%.
Número
superior foi registrado no Sul do país, segundo pesquisa desenvolvida em um
município do interior gaúcho.
Ter sorologia positiva indica que a pessoa, em
algum momento de sua vida, foi exposta ao causador da doença, não significando
que necessariamente ficou doente.
“Em Erechim, no Rio Grande do Sul, foram
estudadas 2,7 mil mulheres gestantes e foi detectado que havia sorologia
positiva para 73%.
Nesse município, 17,7% da população com a infecção teve a
toxoplasmose ocular, que também acomete bebês por vias
congênita.”
Embora a doença não seja extremamente grave,
pode em determinados casos levar à cegueira ou à morte. “A toxoplasmose é uma
doença autolimitada.
Cerca de 90% das pessoas que têm contato com o parasita,
não têm a sintomatologia ou então apresentam uma forma muito branda.
O mais
frequente é ter dor de cabeça, dor muscular e articular, cansaço.
Simula uma
gripe, tem uma febre e enfartamento ganglionar [ínguas], ou seja, pode ser
qualquer coisa.
Qualquer infecção pode dar isso.”
Casos mais graves atingem pessoas
imunodeprimidas, por tratamento quimioterápico contra o câncer, transplantes
recentes ou aids, que podem ser levadas à morte.
A toxoplasmose pode ser
facilmente detectada por exame de sangue, medida que já faz parte dos exames
pré-natal."
Fonte: Jornal do Brasil
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